28 de agosto de 2008

lua vaga em noite ocupada

não vou ceder meus cabelos ao divertimento alheio
nem submeter meu pescoço às placas de moradia
não quero fazer joça aos direitos do corpo
nem comprá-los à custa de ordens ditas pela tradição
ter onde encostar a cabeça é algo sagrado
quando esta pede repouso

(a ave tem ninho e mora no céu
pois cedo se ouve o canto seu)

meu segredo é a humilhação sem batalhas
humilhação feita de humus e terra
terra sem traição das minhas buscas
: minha cara dada a tapas por motivos justos

não quero fazer posse do telhado público
onde se estendem bandeiras sujas
costuradas de privilégios
e cores que não correspondem à razão
daqueles sem abrigo

a lista dos que carecem é pendurada na sala de espera
as autoridades não demonstram urgência na resolução
desde passados
a caixinha recorda coisas pequenas, apenas
mas o treinamento de favores não
(e há bixos que sabem disso)

aos nomes descontemplados
parece restar uma opção no acaso
ocupar o gabinete da assistência
e alojar-se entre as falhas e a burocracia
incomodar é preciso enquanto se vive incomodado
(pena de pena aos acomodados da torre de marfim
sentados na pedra)
conto de fardos nesta cidade amontanhada

estas ruas são por demais estreitas
e íngremes o seu percurso mal desenhado
(nisto está a beleza delas)
a princípio não dão em nada
sem mãos e o mínimo esforço
mas a causa não é boa só nos livros
inclusive
estes precisam de uma casa

--
deivid junio.

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