31 de agosto de 2008

Carta Manifesto do Movimento de Ocupação da Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários e Estudantis - UFOP

CARTA MANIFESTO

A moradia estudantil, assim como a alimentação, a bolsa permanência, a assistência médica, o acesso ao livro, em suma, a assistência estudantil em geral, bem como a educação gratuita e de qualidade, está assegurada desde 1988 pela Constituição Federal do Brasil. Portanto, é dever do Estado, representado pela reitoria, responsabilizar-se pela permanência dos estudantes carentes desta instituição federal de ensino superior.
Assim sendo, nós, alunos da Universidade Federal de Ouro Preto, aqui ocupados na PRACE - Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários e Estudantis da UFOP, exigimos que o Magnífico Reitor Dr. João Luiz Martins, se comprometa a oferecer uma solução emergencial a todos os estudantes que foram classificados pelo processo seletivo para ocuparem vagas no alojamento estudantil e que, no entanto, não serão alocados imediatamente nessas moradias, por serem somente 7 (sete) as vagas disponíveis neste momento.
Exigimos também que os estudantes membros da ocupação não sofram nenhum tipo de penalidade, visto que o movimento é de cunho pacífico e, sobretudo, por se legitimar na luta daqueles estudantes que não possuem condições materiais de se manterem nesta instituição.
Cabe ressalvar que em nenhum momento o movimento impediu o funcionamento da PRACE - Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários e Estudantis, permitindo o livre acesso, entrada e saída, tanto dos funcionários locados nesta seção quanto dos que procuraram atendimento durante o período da ocupação.
Diante da proposta do reitor, de solucionar a emergência apenas dos cinco alunos classificados no processo seletivo supracitado, de serem beneficiados por uma bolsa permanência de R$ 300,00 (trezentos reais) por somente estarem eles presentes durante a negociação com o reitor neste ato de ocupação pacífica, o movimento propõe que o mesmo benefício seja estendido aos outros alunos classificados neste edital de seleção, visto também que estes são merecedores do mesmo respeito e direito de permanecerem nesta universidade. É importante que a PRACE divulgue a toda comunidade acadêmica e em todos os meios de comunicação possíveis o direito de aquisição ao benefício reivindicado, além de conceder um prazo razoável para que os alunos interessados consigam manifestar o devido interesse.

Exigimos também:
- A garantia de bolsa permanência a todos os alunos que comprovarem, através de critério sócio-econômico, não terem condições de se manterem nesta instituição.
- que seja divulgada a lista completa dos moradores ocupantes das Republicas Federais, e que a PRACE monitore o coeficiente acadêmico dos alunos, a fim de averiguar possíveis empecilhos que estejam dificultando a boa formação do aluno.
- que a PRACE dê um posicionamento final (prazo de 01 mês) a respeito da questão do processo seletivo ocorrido para a República Jardim Zoológico.

O movimento, portanto, resolve não desocupar a PRACE até que seja garantido, em ofício assinado pelo Pró-Reitor da Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários e Estudantis, o Sr. Rafael Magdalena, e pelo Magnífico Reitor Dr. João Luiz Martins, o compromisso de solucionar nossas reivindicações.

Ouro Preto, 27 de agosto de 2008.

MOPRACE - Movimento de Ocupação da
Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários e Estudantis – UFOP
Coletivo Amar e Mudar as Coisas

28 de agosto de 2008

lua vaga em noite ocupada

não vou ceder meus cabelos ao divertimento alheio
nem submeter meu pescoço às placas de moradia
não quero fazer joça aos direitos do corpo
nem comprá-los à custa de ordens ditas pela tradição
ter onde encostar a cabeça é algo sagrado
quando esta pede repouso

(a ave tem ninho e mora no céu
pois cedo se ouve o canto seu)

meu segredo é a humilhação sem batalhas
humilhação feita de humus e terra
terra sem traição das minhas buscas
: minha cara dada a tapas por motivos justos

não quero fazer posse do telhado público
onde se estendem bandeiras sujas
costuradas de privilégios
e cores que não correspondem à razão
daqueles sem abrigo

a lista dos que carecem é pendurada na sala de espera
as autoridades não demonstram urgência na resolução
desde passados
a caixinha recorda coisas pequenas, apenas
mas o treinamento de favores não
(e há bixos que sabem disso)

aos nomes descontemplados
parece restar uma opção no acaso
ocupar o gabinete da assistência
e alojar-se entre as falhas e a burocracia
incomodar é preciso enquanto se vive incomodado
(pena de pena aos acomodados da torre de marfim
sentados na pedra)
conto de fardos nesta cidade amontanhada

estas ruas são por demais estreitas
e íngremes o seu percurso mal desenhado
(nisto está a beleza delas)
a princípio não dão em nada
sem mãos e o mínimo esforço
mas a causa não é boa só nos livros
inclusive
estes precisam de uma casa

--
deivid junio.

25 de agosto de 2008


O imaginário daqueles que sonham, cada vez mais, assimilam entidades um tanto quanto peculiares. Através da assimilação do real, novas imagens gradativamente empatam o imaginário, promovendo a sua total banalização por meio de desejos que refletem o conteúdo morto que está por detrás das vitrines. Não é através da razão - ou qualquer outra faculdade do conhecimento - que nós tracejamos a felicidade, mas justamente é através da imaginação que a felicidade tem o seu corpo definido; talvez seja por isso que a garantia de felicidade oferecida pelo consumo de mercadorias sem-vida consiga inserir, dentre os olhos dos que (não)vêem, uma falsa similaridade com aquilo que há tanto é objeto de desejo da imaginação. É preciso atentar para o fato de que a imaginação não pode se comprouver com o alimento prático-imediato que é dado através de merchandises. Esse paliativo é o vício que atrofia a criatividade: se a imaginação se vende à realidade capital, nada é conseguido além do que já se possuía e é enterrada viva a capacidade de transpor o momento vivido. Os olhos passaram a ser os maiores consumidores e a imaginação o grande depósito de imagens-mercadorias. A felicidade tanto nos é imputada quanto a liberdade, que se restringe tão-somente a escolher o produto de uma falsa identificação. A realidade torna-se ainda mais estreita, e a imaginação e os anseios diurnos dificilmente encherão de ar os seus pulmões num mundo que se tornou demasiadamente poluído.

6 de agosto de 2008

Qual será seu futuro na Universidade?

A projeção de nossas vidas tendo em vistas um futuro melhor é parte constituinte da essência humana. A juventude, por sua vez, caracteriza-se por ser o ápice do desejo de mudanças, pelos sonhos de uma vida melhor.

Dentro deste contexto, cabe levantarmos algumas questões. Qual o real propósito de sua tentativa de entrada numa universidade pública? O que você espera desta universidade caso consiga passar no exame vestibular? Com relação ao curso selecionado, quais são as suas motivações para a área escolhida? Como você pretende se colocar diante da sociedade após a sua formação?

Certamente você deve ter se preparado para realizar o exame vestibular. No entanto, qual foi a verdadeira relevância do conteúdo aprendido nesta preparação, que foi lhe imputado visando pura e simplesmente o seu treinamento, muitas vezes sem nenhum tipo de reflexão? É importante ressaltar que, antes mesmo da sua entrada na universidade, a sua função enquanto ser pensante é parcialmente mutilada. Essa diversidade de ensinamentos proferidos ao longo de extensos anos de estudos, por fim colocam os estudantes como meros indivíduos disformes, numa razão mercantil uniforme, cujo fim último chama-se vestibular. O vestibulando, bem treinado e alimentado torna-se um autômato, esquecendo-se daquilo que realmente o torna humano: a sua capacidade de reflexão e escolha.

O mito recorrente de que na universidade tudo será diferente se revela falso. O fim ultimo passa a ser a inserção no mercado de trabalho. Ao invés de um espaço de desenvolvimento das verdadeiras potencialidades humanas, vemos uma capacitação para melhor vender o trabalho alienado. Se você acredita que seu futuro poderá ser melhor, convêm avisarmos: dentro da atual lógica mercantil, seu destino já está fadado. Um quadro na parede, um titulo, um emprego, uma casa própria, um bom carro e a eterna angústia de possuir apenas a liberdade de escolha para consumir e ser consumido. A universidade não gera conhecimento autônomo, visto que as pesquisas e a maioria das produções acadêmicas, de modo geral, estão voltadas para a manutenção de um sistema perverso que caminha para autodestruição humana: o esgotamento dos recursos naturais conjuntamente ao niilismo no qual se encontram os seres humanos tornaram-se os verdadeiros precursores deste abismo existencial, que se apega ao consumismo inveterado ao invés de repensar quais as possíveis soluções diante tal colapso.

Enquanto a sociedade clama por mudanças, a universidade se cala em seu academicismo. O privado se confunde com o público. Funciona como ponte de ligação entre o vestibular e o bom emprego. Enquanto isso, a sociedade, que mantêm o funcionamento da universidade, tornou-se simplesmente um espaço de exploração para a livre iniciativa (a livre competição do aniquilamento), num conflito que coloca todos contra todos e determina que somente os mais aptos se sobressairão.

A todos os que foram selecionados por meio desse darwinismo acadêmico, cabe dizer: a sua tão almejada liberdade limitar-se-á ao pequeno leque de opções que o sistema irá lhe impor. (Se preferir, lute por mudanças!)