17 de novembro de 2009

Repúblicas descaracterizam interior de imóveis históricos



Área de moradia estudantil
é adaptada para sediar festas,
uma intervenção que somente
poderia ser feita com autorização
de órgãos responsáveis pelo patrimônio

foto: Euler Junior/EM/D.A Press

Jornal Estado de Minas (Portal UAI)
Luciane Evans
Segunda-feira 16 de novembro de 2009


Por fora, janelas e portas coloniais refletem o passado de Ouro Preto, na Região Central de Minas. Mas, por dentro, os grandes quartos ganharam status e função de boates, com direito a bar, paredes negras e decoração. Pisos de madeira foram substituídos por mais modernos. Cozinhas, com grandes freezers de cerveja, estão mais equipadas que as de apartamentos de luxo.

Quem passa pelas portas das repúblicas da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) não percebe o contraste entre o antigo e o novo e ignora a descaracterização dos bens tombados pelo patrimônio público. Levantamento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e do Ministério Público Federal (MPF) em 58 repúblicas mostrou que apenas 11 têm projetos de obras regularizados ou em processo de autorização. E, pior, a maioria das moradias estudantis está localizada no conjunto arquitetônico e urbanístico objeto de tombamento federal e, sendo assim, qualquer obra nos imóveis deve ser submetida ao Iphan para autorização.

“A providência vinha sendo ignorada pelos estudantes com a complacência da universidade”, reclama a procuradora da República Zani Cajueiro. Por causa disso, em junho, os dois órgãos firmaram um termo de ajustamento de conduta (TAC) com a Ufop e nove repúblicas federais. “Os alunos, que são os gestores, fizeram obras para conter infiltrações, aumentaram muros, construíram coberturas, churrasqueiras e até toldos. Um ‘puxadinho’ contemporâneo não se adequa à arquitetura histórica que queremos preservar”, alerta a procuradora.

Das nove repúblicas que assinaram o TAC, quatro estão regularizadas pelo Iphan e cinco em processo de aprovação. Mas elas representam menos de um terço do universo de 58 imóveis federais da Ufop. “Não significa que todas têm irregularidades, mas sabemos que boa parte delas faz intervenções nos imóveis. Por isso, em 2010, vamos apertar ainda mais o cerco e chamar esses alunos para uma conversa. Caso não haja acordo, levaremos o caso ao Ministério Público”, revela o chefe de escritório técnico do Iphan em Ouro Preto, Rafael Arrelaro.

Em 2007, a Ufop alertou os universitários sobre a responsabilidade e importância de não degradar um bem tombado. Naquele ano, foi assinado um termo jurídico entre a universidade e os alunos e ficou acertado que qualquer intervenção deveria ser comunicada à Ufop, que a submeteria à aprovação do Iphan e da prefeitura.

Passados dois anos, o que se vê nos imóveis é o toque contemporâneo embalado por uma casca do passado. As cozinhas estão mais modernas, assim como os banheiros. Há churrasqueiras nos quintais e os cômodos grandes, agora boates, foram pintados de preto e rabiscados com spray fosforescente. Há até scoth bar. “Isso não pode ocorrer. Essas boates estão degradando um patrimônio. Inclusive, deveriam fazer um levantamento de acústica para saber se o som pode danificar a estrutura dos imóveis. É preciso uma recuperação imediata desses bens”, cobra a procuradora da república.

O Estado de Minas conversou com alguns estudantes, que pediram para não serem identificados. Eles afirmaram não precisar de autorização para as reformas, pois elas são feitas na parte interna da casa, e que as intervenções são somente para conservação, não havendo descaracterização do patrimônio.

Fiscalização

Os órgãos competentes, que deveriam manter o controle da situação, alegam não ter condições para exercer as vistorias. “A Ufop não tem como fiscalizar. Cabe ao Iphan identificar e nos notificar. A universidade assume a responsabilidade e abre processo contra o aluno, o que pode gerar advertência, suspensão e até expulsão da universidade”, afirma o pró-reitor administrativo da Ufop, André Lana. Já o Iphan informa que só age após receber denúncias. “Conseguimos fiscalizar as igrejas, por exemplo. Mas em relação às repúblicas é mais difícil. Têm estudantes que aproveitam os fins de semana para fazer as obras”, explica o técnico Rafael Arrelaro.

Mas, para a procuradora, não há dificuldades. “Basta a Ufop organizar um cronograma de vistoria, não é nada complexo. Pode até contratar um estagiário para fazer um comparativo do inventário das casas com a estrutura atual”. Para Terezinha Leite, professora de educação patrimonial de Ouro Preto e moradora da cidade, o grande problema é a limitação das vagas. “Nós, cidadãos, pagamos para que os universitários tenham direito de morar em repúblicas para se dedicarem aos estudos. As boates tiram oportunidade de mais alunos morarem ali”, lamenta.

fonte: http://www.uai.com.br/UAI/html/sessao_2/2009/11/16/em_noticia_interna,id_sessao=2&id_noticia=136146/em_noticia_interna.shtml



5 de novembro de 2009

Repúblicas federais de Ouro Preto são impedidas de fazer festas pagas e vender pacotes de Carnaval

O TEMPO online
04/11/2009 13h19
FERNANDO COSTA
fernando.costa@otempo.com.br

Uma resolução dos Ministérios Público Federal e Estadual determinou que as repúblicas federais de Ouro Preto, na região Central do Estado, estão impedidas de realizar festas pagas e vender pacotes de hospedagem ou de blocos carnavalescos. A decisão afeta somente os estudantes que vivem em repúblicas que pertencem à Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) que, a partir de agora, não podem mais exercer atividades que visam lucro nas propriedades da universidade.

Segundo o promotor Ronaldo Assis Crawford, a situação já era analisada pelas promotorias há pelo menos dois anos. "Depois do estudo do caso, optamos conjuntamente por pedir uma recomendação ao reitor da UFOP. Agora, a universidade tem 40 dias para informar as providências que irá tomar para coibir este tipo de ação", diz o promotor.

Conforme o promotor, a minoria dos alunos que mora nas repúblicas federais estavam tendo privilégios inaceitáveis. "Eles acabam lucrando enquanto ocupam moradias da universidade", explica.

Assis afirma, ainda, que não haverá fiscalização num primeiro momento. "Vamos aguardar as decisões da faculdade e, caso a recomendação não seja acatada, tomaremos outras providências", afirma.

A Universidade Federal de Ouro Preto informou que está promovendo reuniões com os estudantes para discutir as decisões e medidas que serão tomadas.

Disponível em: http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=61254

9 de junho de 2009

Descartem a Juventude

O que dela fizeram,
O que dela fazemos
E o que dela faremos?

Puríssima sofistaria.

23 de abril de 2009

Universidade de Ouro Preto terá de gerenciar moradias







O Ministério Público Federal (MPF) recomendou à Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) a adoção de critérios objetivos de acesso aos imóveis cedidos para moradia estudantil, as chamadas "repúblicas". Entre esses critérios, deverá preponderar a situação socioeconômica daqueles que pretendam residir nos imóveis. Isso quer dizer que os imóveis deverão ser destinados preferencialmente a estudantes carentes.

Segundo denúncias recebidas pelo MPF, a universidade vem conferindo plena liberdade aos estudantes para o estabelecimento das condições de ingresso dos novos moradores nas "repúblicas", as quais acabam resumidas em apenas uma: a submissão do estudante novato a situações degradantes que perduram por até seis meses.

Com isso, muitos dos que realmente dependem dessas moradias acabam se vendo privados do benefício, justamente porque o critério da hipossuficiência não é determinante para a escolha de quem irá usufruir do benefício concedido pela universidade.

Chamada a se manifestar sobre o teor da denúncia, a Ufop confirmou que "são os moradores quem definem as regras de admissão e mantêm a manutenção e a conservação dos prédios (...) Há repúblicas em que os calouros, conhecidos como bixos, têm de cumprir um estágio, chamado de 'batalha', para serem aceitos definitivamente como moradores das casas".

A universidade fez alusão ainda à Resolução CUNI nº 779, editada em conjunto com os próprios estudantes, na qual ficou estabelecido que as residências estudantis, pelo princípio da "auto-gestão", utilizaria critérios próprios de seleção dos novos moradores, "devendo, sempre que possível, priorizar os candidatos mais desfavorecidos economicamente".

Para o MPF, a conduta da Ufop é totalmente ilegal. Os imóveis cedidos aos estudantes são imóveis públicos, de propriedade da União, e sua destinação deve ser sempre para auxiliar estudantes carentes, como é da natureza de qualquer moradia estudantil. Mas o que tem ocorrido em Ouro Preto é um claro desvio de finalidade, atraindo a aplicação do artigo 11 da Lei de Improbidade Administrativa.

"A atribuição para estabelecer as regras de acesso aos imóveis é privativa da universidade, na condição de gestora dos imóveis, que são públicos. Ela não pode se eximir dessa obrigação, atribuindo-a a outrem. É dela o dever de editar os atos normativos e de fiscalizar o seu cumprimento. O ato de delegação dessa responsabilidade aos estudantes é vedado pela ordem jurídica", afirma o MPF.

Direitos humanos - Os mesmos princípios constitucionais que regem os atos administrativos também obrigam a universidade a enfrentar a questão do chamado estágio ou "batalha" a que os calouros são obrigados para terem direito a morar nos imóveis. Ainda que a Resolução 779 tenha apontado o dever de o corpo discente não realizar práticas que violem os princípios da dignidade da pessoa humana, a instituição acaba, na prática, compactuando com os atos que, formalmente, cuidou de vedar. "Considerá-los como prática comum e incorporada aos costumes lícitos vai de encontro ao dever constitucional de agir da Administração Pública, no sentido de impedir a ocorrência de qualquer tipo de atos constrangedores que signifiquem violação aos direitos humanos. O fato de parte da sociedade aceitar e conviver com esses atos não lhes retira o caráter degradante. Tanto é assim que várias denúncias têm chegado ao MPF para que se ponha fim a tais práticas".

Por essa razão, o segundo item da recomendação é para que a Ufop adote procedimento de rígida fiscalização dos estudantes, para "reprimir, na intimidade desses imóveis públicos, a prática de condutas que importem em constrangimento ilegal e que violem flagrantemente o princípio da dignidade humana".

A universidade terá o prazo de 60 dias para atender a recomendação, sob pena de serem tomadas contra ela as medidas judiciais cabíveis.




17 de abril de 2009

Abril vermelho

hoje eu quero fazer um poema
um poema de silêncio impossível
um poema que apague as rosas de pólvora
disparadas na curva do S

um poema de letras vermelhas
um poema que faça memória
capaz de perdurar 19 sonhos
qual velas incansáveis dentro da noite, um poema

um poema que faça suspender a poeira da estrada
a gota d'água que faltava, sejam estes nomes
um fermento para as revoltas
uma semente de mostarda

um poema de nomes a serem plantados no vento
co’a certeza da ressurreição
como um grão de pólen, fecundo
ignorante ao concreto e à rocha
um poema de nomes

João Rodrigues Araújo
Altamiro Ricardo da Silva
Graciano Olímpio de Souza
Amâncio dos Santos Silva
Joaquim Pereira Veras
Abílio Alves Rabelo
José Alves da Silva
Antônio Costa Dias
José Ribamar Alves de Souza
Antônio Alves Cruz
Lourival da Costa Santana
Antônio, ‘Irmão’
Raimundo Lopes Pereira
João Carneiro da Silva
Leonardo Batista de Almeida
Oziel Alves Pereira
Manoel Gomes de Souza
Robson Vitor Sobrinho
Valdemir Ferreira da Silva

um poema que adube
as terras improdutivas
e dissipe os latifúndios da indiferença
que desmanche as cercas manchadas de sangue
que subverta a história na hora incerta, e precisa

um poema de nomes
que perturbe o sono
dos falseadores das lutas dos homens
e mulheres à margem da mesa

um poema simples
que mine a tarde de Eldorado e contamine o mundo
um poema germinado no campesinato pra romper nas cidades
como um grão de pólen
um poema que termine apenas na palavra vida
escrita a mãos impassíveis diante da morte
um poema à vida.

deivid junio.
www.paralelepipedopoema.blogspot.com

19 de março de 2009

Comunidade Ufopiana é convidada a participar de Audiências Públicas sobre moradia estudantil

O Comitê Permanente de Moradia Estudantil (COMEPE) convida toda a Comunidade Acadêmica da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) para participar das Audiências Públicas que acontecem em 24 de março, às 13h, no Cine Vila Rica de Ouro Preto e em 26 de março, às 19h, no Auditório do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS), em Mariana.

O objetivo destas reuniões é apresentar as propostas de construção de novas moradias estudantis e debater a forma como as moradias serão geridas.

Segundo o COPEME, a audiência pública é uma das formas de participação e de controle popular da Administração Pública no Estado Social e Democrático de Direito, que leva a uma decisão com legitimidade e transparência.

E ainda, propicia a troca de informações, o exercício da cidadania e o respeito ao processo legal em sentido substantivo.

Fonte: http://www.ufop.br/index.php?option=com_content&task=view&id=4707&Itemid=196
Disponível em 19 de março de 2009.

5 de março de 2009

Uma aula em Nossa Defesa...

Esse texto tem como pretensão demonstrar que o texto escrito pelo profº do curso de direito da UFOP, Cláudio Henrique, postado em seu blog: http://ribeirodasilva.pro.br/blogdobigus-09-02-20-direita-esquerda-movimento-estudantil-ufop-republicas.html, embora tente se valer de uma argumentação sólida com coerência lógica entre seus argumentos, não possui validade, pois na extrema maioria das suas conclusões se utiliza de premissas falsas.Convém notarmos, inicialmente, que o professor lança mão de termos apelativos e comuns, para defender seu texto e descaracterizar o Movimento que objetiva, entre outras coisas, estranhamente, a democratização de um espaço público de propriedade da União. No texto do profº Claúdio estão presentes conceitos como: direita, esquerda, anti-repúblicas, liberdade, vilãs, destruição, excludente, preconceito, ódio, discriminação, eliminação, desumanização, homofobia.Tentarei elaborar um texto sem tantas palavras ressonantes e clichês, porém com premissas válidas e bem concluídas.A primeira premissa que merece a adjetivação de falsa é aquela que caracteriza o movimento como “anti-república”.Uma elucidação que se faz necessária é a de que o Coletivo Amar e Mudar as Coisas – em nome do qual me pronuncio aqui – não é um movimento anti-república, talvez houvesse uma maior felicidade do professor se o acussasse de movimento anti-repúblicas federais, mas nem por isso estaria correto; pois o Coletivo não possui discordância com repúblicas, nem com os moradores destas, mas sim contra o sistema de seleção e permanência utilizado pelos seus usuários e normatizado pela Universidade.A segunda elucidação tentara desmentir a afirmação de que o Coletivo opta pela seleção socioeconômica excluindo a co-existência de qualquer outro critério. Creio que isso jamais foi dito ou escrito por qualquer individuo que se reivindique participe desse agrupamento - gostaria muito de ser convencido do oposto. Para que não fiquemos apenas em uma troca de argumentos paradoxais e vazios, citarei uma situação concreta, onde essa conduta foi demonstrada. O caso em questão diz respeito ao processo de elaboração do Estatuto das Repúblicas Federais de Mariana, onde o acesso às moradias pela a seleção socioeconômica foi defendido incansavelmente pelos integrantes do Coletivo, porém que a permanência fosse normatizada por outros critérios, dentre os quais estão inclusos os da preservação e respeito do espaço público que representam as repúblicas federais de Mariana e a inexistência de qualquer brincadeira humilhante, sejam elas, trotes. Outro ponto do discurso do profº ao qual convém me ater é quando este diz que entre nossas reivindicações figura: [...]”a destruição da cultura republicana” [...]Gostaria muito que o professor provasse que essa afirmação fora feita por um dos membros do Coletivo! Nós defendemos que qualquer generalização sempre possui caráter preconceituoso e prejudicial, prova disso é que jamais criticamos a tradição de retorno dos ex-alunos as casas. A concordância com esta prática é em tal grau, que a copiamos e comumente presenciamos o retorno dos militantes do Coletivo a nossas residências, onde são muito bem recebidos, nos contam histórias e quase sempre contribuem com soluções para impasses que temos.Felizmente é necessário que nos posicionemos contra algumas práticas do atual sistema, pois do contrário não seríamos um Movimento a propor mudanças, porém falar em destruição de uma cultura é um pouco exagerado - a considerar as postagens realizadas na comunidade da UFOP e outros pronunciamentos públicos. Felizmente é necessário que nos posicionemos contra algumas práticas do atual sistema, pois do contrário não seríamos um Movimento a propor mudanças, porém falar em destruição de uma cultura é um pouco exagerado - a considerar as postagens realizadas na comunidade da UFOP e outros pronunciamentos públicos.A dissertação que o professor elabora no primeiro parágrafo do capítulo que trata de “igualdade e pluralismo” parece atentar contra o próprio sistema que defende. Explico: práticas como a planificação de opiniões e comportamentos, são características do sistema de permanência da maioria das.moradias da UFOP/OP e é este um dos motivos que causa a oposição do nosso movimento.A respeito da acusação de que seriamos preconceituosos, gostaria de tecer algumas reflexões. Ao se referir sobre uma imagem que se encontra no BLOG do Coletivo – especificamente, uma imagem que retrata um primata com uma placa no pescoço, com os dizeres: “Conheça a tradição federal do sadismo! Sou primata, sou feliz!”. Primeiramente, o Prof. Cláudio, nos acusa de “retratar os republicanos como primatas”. Certamente cometemos um enorme erro ao comparamos os primata aos “republicanos”; cabe ressaltar, um enorme erro com os primatas, afinal, não podemos afirmar sobriamente que os primatas pratiquem atos sádicos, como trotes, contra os seres da mesma espécie, até mesmo porque o sadismo é um ato estritamente humano. Com isso podemos concluir, contra a acusação de desumanização, que não estamos desumanizando os “republicanos”; muito pelo contrário, nós estamos humanizando-os, uma vez que o sadismo é um conceito aplicado puramente aos humanos – humanos com algum desvio de comportamento, é claro.Adiante, o Prof. Cláudio também afirma: “Se usassem tal imagem para representar cidadãos de origem afro-brasileira, possivelmente estivessem presos. Talvez, o próprio autor do desenho visse nisso algum preconceito.” O argumento do Prof. Cláudio foi utilizado claramente como uma tentativa de nos promover como racistas. Entretanto, devemos nos atentar ao fato de que é o próprio Prof. Cláudio que alude – quem sabe, inconscientemente - uma possível semelhança entre os afro-descendentes e o desenho do primata, uma vez que em nenhum momento fora feita alguma referência preconceituosa relativa aos afro-descendentes, visto que o desenho tem o propósito único de satirizar os trotes praticados, impunemente, em algumas das repúblicas federais de Ouro Preto. Diante dos prováveis equívocos do Profº Cláudio Henrique, cabe aconselha-lo a dosar suas palavras de acordo com o conhecimento que possuí do movimento estudantil ufopiano; e se, acaso, houve uma má-fé do professor, culminando na tentativa de denegrir o Coletivo Amar e Mudar.as Coisas, com mentiras e análises tendenciosas – como em outrora se fez com o Movimento pela Democratização da Moradia Estudantil, o MDME –, está exposto uma versão da história que tenta se desvencilhar das armadilhas ideológicas na intenção de auxiliar o leitor a formar uma opinião coerente a respeito do ME da UFOP.

23 de fevereiro de 2009

Entrevista: O trote nas universidades

Entrevista feita pelo Canal de Notícias "Causa Operária".

“O trote é fundamental para formar uma falange política coesa e obediente que vai fazer aquilo que as pessoas que estão no topo da hierarquia mandam”

Publicamos nesta edição uma entrevista exclusiva com Oriowaldo Queda, professor titular aposentado e Antônio Ribeiro de Almeida Jr. da ESALQ (Escola de Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP) da área de Mídia e Ambiente que escreveram juntos dois livros sobre o trote universitário, relatando com dados históricos e atuais qual a relação do trote com as direções das universidades e como, por meio do trote, é formado um conjunto de estudantes que vai defender os interesses da burocracia

23 de fevereiro de 2009

C.O.: Vocês poderiam se apresentar e nos dizer a linha de pesquisa que desenvolvem dentro da ESALQ e o que impulsionou vocês a fazer esta pesquisa sobre o trote que está nos livros Trote na ESALQ e Universidade, Preconceitos e Trote?

Oriowaldo Queda: Eu sou professor titular aposentado da ESALQ e inicialmente eu trabalhava e passei toda a vida acadêmica trabalhando com extensão e sociologia rural. Atualmente eu trabalho no centro universitário de Araraquara no mestrado chamado desenvolvimento regional e meio ambiente, mudei um pouco, continuo trabalhando com agricultura, mas também com a questão ambiental.
Sobre a questão do trote, eu sempre tive uma posição muito clara e contrária ao trote, mas talvez nunca tivesse me manifestado claramente. Ficava uma dúvida muito grande na minha cabeça, pois as pessoas tratavam como uma brincadeira, e como brincadeira era perfeitamente aceitável e assimilável. Eu tinha uma idéia que o trote era sempre uma violência e as coisas não batiam. Então tive a idéia, no curso de sociologia e extensão, de atribuir um ponto a mais na média da disciplina, se os alunos me respondessem citando três práticas que eles considerassem violentas e três que considerassem brincadeiras. E eu queria que eles descrevessem essas práticas. Com isso, eu acumulei quase dois mil resultados dessas perguntas com os alunos e fui acumulando até o dia em que o professor Antônio Almeida chegou para trabalhar na ESALQ e quando falei desse material ele mostrou bastante interesse e começamos a ler, conversar e discutir como é que apresentaríamos o trote como um ritual de extrema violência, de débeis mentais que ficam aprovando e o mais gozado, mais triste, é que as pessoas, a “mídia” acabam incorporando o trote como uma brincadeira passageira. E os professores, não diria que é a maioria, acabam incorporando isso (diretores, reitores). E a necessidade do livro foi mostrar que nada disso é verdadeiro, o trote é uma tradição de barbárie, quer dizer, nas suas origens é um instrumento extremamente discriminador entre as pessoas.

Antônio Almeida: Sou professor da ESALQ desde 2001, a minha trajetória é mais ligada à pesquisa de “mídia” e ambiente, e tenho alunos monitorando vários órgãos de “mídia” a respeito da questão ambiental. Quando eu cheguei à ESALQ fiquei surpreso. sou engenheiro agrônomo formado aqui. A situação do trote me pareceu pior que no período em que estudei na década de 80. Agora com um número maior de participantes e com práticas mais expostas, à luz do dia, acontecendo na rua, dentro do campus. E isso me incomodou bastante, me pareceu de uma forma bem ingênua que eu nunca tinha me preocupado como sociólogo. Tinha vivenciado o período de trote aqui e as relações que o trote estabelece aqui com o aluno, mas nunca tinha feito uma reflexão sociológica sobre isso. Comecei uma investigação lendo esses documentos que o professor Oriowaldo Queda fez referência e comecei a entrevistar alunos. O que é um elemento curioso e que faz parte das nossas explicações hoje sobre o trote, é que este ocorre dentro da universidade, diante de toda a intelectualidade brasileira. Essa intelectualidade faz declarações na “mídia”, sem nenhum tipo de responsabilidade porque não há pesquisa. Então o sujeito é pesquisador antropólogo, pesquisa índios e outras situações, e jamais fez uma investigação sobre o trote e dá declarações nos órgãos de “mídia” falando coisas absurdas sobre o trote

C.O.: Esta tradição do trote, que é em geral violento, surgiu quando e, na sua opinião, a que está relacionado?

Antônio Almeida: Trote, para nós, é igual à violência.

Oriowaldo Queda: Chegamos ao seguinte: aceitar o trote como um rito de passagem... a gente no começo até pensou que poderia ser uma explicação, mas descartamos porque na verdade ele não integra. Mas a integração necessariamente não ocorre. É o que o Antônio já disse, em vez de ser um mecanismo de integrar os alunos, ele segrega.

Antônio Almeida: O trote divide os alunos do campus, uma parte dos alunos não trotista e outra parte dos alunos integrados ao grupo trotista. Então, quando aplicamos os questionários, foram mais de dois mil, aqui com os alunos. No momento em que eles entram na universidade a distribuição é quase que homogênea das posições deles em relação a vários assuntos, e após o período de trote, a distribuição não é mais normal e sim de uma maneira bimodal, quer dizer, os alunos que estavam distribuídos de uma forma mais ou menos homogênea se agrupam em dois extremos. Ou seja, o trote divide o campus, divide os alunos causando problemas em sala de aula. Você tem dentro da sala de aula aqueles que não conseguem conversar, trabalhar, ou mesmo falar em função dessa divisão causada pelo trote.

Oriowaldo Queda:Tem o aspecto do poder e a questão das outras disciplinas, que é a psicologia e a política. E acho que o Antônio poderia completar para fornecer como é que os nossos argumentos teóricos e a dificuldade que tínhamos eram de desmontar esses argumentos, que as três áreas, antropologia, psicologia e política, apontavam para a necessidade do trote. Como é que os alunos são trabalhados, e a maioria dos alunos não se dá conta disso, de como são manipulados pelas direções da faculdade, reitorias e pelos professores trotistas. E o seguinte, jamais os trotistas criticam a instituição.

Antônio Almeida: Tem um processo de formação dessa violência institucional, a violência dentro da universidade, da empresa. O processo começa com o “bullying” na escola, a criança mal chegou e já recebe um apelido, se ela é um pouco diferente já tem gozação. Isso aí se manifesta muito claramente no trote e depois dentro da empresa vai se manifestar nas várias formas de assédio moral, que são formas de assédio, eu diria, fundamentais para estruturação para exploração do trabalho tal qual a gente tem hoje na sociedade em que vivemos. As pessoas se iludem, elas acham que o trote acaba no primeiro ano. Não, para você pertencer ao grupo trotista nos lugares onde este é importante, que são nas escolas que controlam certos setores da economia, como a ESALQ, por exemplo, é fundamental para um setor inteiro da economia, da agricultura e da agropecuária. Outro exemplo é a Universidade Federal de Ouro Preto, que é absolutamente fundamental para um setor todo de mineração e etc. Sobre essas escolas, pesa um controle ideológico tremendo e esse controle ideológico começa a ser exercido no trote. É no trote que se testa quem aceita submissão, que depois, no segundo ano, para pertencer ao grupo, você precisa dar trote. Então tem muitos alunos que passam por todos os trotes no primeiro ano e depois não conseguem dar o trote no segundo ano e são marginalizados pelos trotistas.

C.O.: Quando surgiu o trote?

Antônio Almeida: O trote é muito antigo. Platão já faz referências ao trote entre os alunos que entram para a academia. A origem, eu diria, são os ritos de passagem das sociedades sem escrita, vem de muito longe.

C.O.: E nas universidades brasileiras?

Antônio Almeida: O primeiro caso de morte é de 1831, em uma escola de direito no Recife.
As tragédias são mostradas como se fossem um raio num céu azul. Como alguém que exagerou. E quem exagerou foi sempre o aluno do primeiro ano. Aqui eu tenho o dado da primeira morte registrada no Brasil por trote, foi o estudante Francisco Cunha Menezes, que foi morto por Joaquim Seraquiel de Carvalho, em Recife em 1831.

C.O.: Os cursos das áreas de biológicas e agronômicas como aqui na ESALQ têm maior incidência destes casos?

Oriowaldo Queda: Acho que não são bem as biológicas. São geralmente as faculdades que serviram como base para a montagem das universidades no Brasil. Medicina, Engenharias e Direito. Não é porque é da área de exatas. O trote no curso de direito é um dos mais perversos que se possa imaginar. A gente também achava que as humanidades seriam indiferentes a essas coisas. O que não é verdade. O trote é uma violência que ocorre em todos os âmbitos da ciência, mas principalmente nessas três áreas Engenharia, Medicina e Direito. E não é por acaso que são essas as áreas que fornecem a maior parte do que podemos chamar de “elite brasileira”. E com todas essas deformações do trote...

C.O.: São áreas inclusive onde a concorrência é enorme. Em cursos como Medicina, Direito e Agronomia, a classe social majoritária são estudantes da pequena-burguesia e da burguesia.

Antônio Almeida: Sim. São estudantes que vêm das classes mais abastadas, aquelas que têm formação. No Brasil, nós sabemos, não estou dizendo nenhuma novidade, que as escolas públicas de uma forma geral são muito ruins. É a escola privada que vai fornecer para a maior parte destes alunos que cheguam às melhores universidades e que superam os vestibulares mais concorridos
A universidade quer o trote, aí é que está o problema. Há muitos professores e dirigentes que querem o trote. Primeiro para formar uma falange política dentro da universidade. Uma falange que apóie as propostas conservadoras e que apóie esses dirigentes conservadores. Portanto, uma das coisas que está presente no trote é a idolatria da instituição. Nós temos fotos de alunos ajoelhados diante do fundador da escola, fazendo reverência. Esta louvação da instituição é uma forma de garantir que a universidade não seja prejudicada de forma alguma. A falta de pesquisa revela isso. Eu sou pesquisador da Universidade de São Paulo e não posso criticar a USP. Se eu não posso falar de trote na Universidade de São Paulo porque isso vai atacar a sua imagem, eu também não posso falar do trote na Unicamp, não posso falar do trote nas federais e não posso falar do trote nas escolas privadas. Como um professor da USP vai criticar a Unicamp? Como este professor vai criticar uma federal? O professor da USP deveria falar da sua própria instituição, mas você não pode criticar a sua própria instituição.
As vítimas do trote entram com um processo na Justiça geralmente contra os agressores de alunos. Raramente há processos contra a direção da universidade. Estes processos devem ser dirigidos ao agressor, mas também à direção que permite, cria, estimula e acoberta o trote.

C.O.: No dia 23 de fevereiro completam-se dez anos da morte de Edison Tsung Chi Hsueh, o calouro de Medicina da USP encontrado morto em uma piscina após um trote. Mesmo assim, os trotes no curso continuam. Você conhece outros casos parecidos com este?

Antônio Almeida: Muitos. Um caso em Osasco é bastante extremo. O menino não era universitário, na verdade era um aluno da 8ª série que estava entrando no ensino médio. Ele era um aluno grandão, foi então para a sala de aula quando tentaram cortar o seu cabelo. Ele se recusou, pois finalmente não era nem ingressante universitário. Acabou levando três tesouradas no peito e foi para o hospital, de onde foi liberado. Depois teve uma hemorragia e morreu.

C.O.: A reitoria da USP é complacente com estas ações do trote, no entanto, abre inquérito policial contra estudantes que protestaram contra uma medida do governo, como os que ocuparam a reitoria em 2007. Qual a diferença que é dada no tratamento destes casos envolvendo o trote com o tratamento dado ao movimento estudantil quando este se mobiliza?

Antônio Almeida: Existe um critério ético básico que é julgar todos os fatos com os mesmos pesos e medidas. O problema é que em um caso você está julgando inimigos políticos, porque o movimento estudantil é considerado inimigo por estar questionando o papel da universidade, a sua direção e as estruturas de poder que existem dentro dela. E do outro lado você tem um aliado político em julgamento. Neste caso os pesos e medidas são diferentes. Em um caso vale o vídeo em outro não vale, em um caso usa-se a confissão em outro caso não se usa. São utilizadas duas medidas e duas formas de julgar as coisas.

Oriowaldo Queda: Basta que qualquer movimento ou ação de alunos e funcionários que coloque em dúvida o que está ocorrendo na universidade, e que é responsabilidade do Conselho Universitário ou do diretor da escola e não se permite que isto se torne público, o fato é abafado. Se alguém disser que a universidade está obtendo recursos de grandes empresas e redirecionando a pesquisa, contestar que existe recurso para o agronegócio, mas não há recurso para a agricultura familiar ou para a agricologia, as pessoas tornam-se um inconveniente para a reitoria ao exercitar este tipo de ação.
Causa Operária: O trote prepara os estudantes que vão defender a universidade independente do que ela faça?

Antônio de Almeida: O trote é fundamental para formar uma falange política coesa e obediente que vai fazer aquilo que as pessoas que estão no topo da hierarquia mandam.

C.O.: Muitos estudantes acham que a universidade seria um corpo neutro no meio da sociedade.

Antônio Almeida: No trote você tem um microcosmos social. No trote estão todos os fenômenos sociais envolvidos como os de mando, exploração, preconceito, violência etc. É muito rico estudar o trote.

C.O.: Vocês citaram em um artigo que “o trote pode ser entendido como uma porta de entrada para formas perversas de corporativismo”. Vocês podem explicar melhor isso?

Antônio Almeida: Estas corporações controlam a porta de entrada para mercados e a universidade produz pessoas que têm, de certa forma, uma reserva de mercado onde o estudante não precisa competir com os trabalhadores que não têm o mesmo nível de instrução. Estas corporações são agressivas, violentas e tem um comportamento muito parecido com aquilo que a gente chama de máfia.

C.O.: Em outro trecho diz que “ao atacar o trote devemos ter em conta que os alunos são apenas soldados de uma hierarquia que conta também com generais”. De que maneira vocês acham que seria possível mudar esta questão do trote se persistir a mesma estrutura de poder na universidade?

Antônio Almeida: O trote por definição é encarado como brincadeira e as pessoas que estão questionando esta definição são interpretadas como erradas. Não somente o Ministério Público, mas os movimentos de esquerda tratam como uma coisa irrelevante. Os movimentos sociais acham que este não é assunto para se preocupar, mas este é um assunto que está na raiz de outros problemas porque é a forma de recrutamento para diversas coisas.

C.O.: As mulheres são muito subjugadas?

Antônio Almeida: Aparentemente, o trote é mais leve para elas, mas só aparentemente. Elas fazem papel de subordinada, é como se as mulheres sequer pertencessem ao grupo que merecesse receber o trote.
Aquelas que são completamente “trotistas” têm destaque. Essas é que vão pegar as outras meninas nas repúblicas e falar para elas tirarem as roupas e fazer “piadas” do tipo: “seu seio está muito grande e precisa de uma plástica; sua bunda está caída e é preciso colocar um macaco mecânico para levantar. Elas, por serem subjugadas pelos homens, acabam realizando práticas mais dolorosas com as outras mulheres.

C.O.: Como o trote pode afetar a formação do estudante e a profissão dele?

Antônio Almeida: O trote é algo autoritário e o aluno vai sendo inserido nesse contexto, você está criando um universitário, mas na verdade é um bruto. Então o bruto age como for necessário, desmatando, coagindo, expulsando, liquidando o obstáculo que faça avançar os projetos que ele pretenda implementar, do Estado, da empresa etc.

Oriowaldo Queda: O aluno de primeiro ano não é nada, segundo a visão do trotista, é colocado na situação de um mendigo. Quando um mendigo aparecer no hospital ou no pronto socorro em que o trotista faz plantão, como ele será tratado? É lamentável a universidade brasileira utilizar tantos recursos para fazer uma coisa tão pobre. Não falo apenas da universidade pública porque na universidade privada fazem a mesma coisa.
Não é só no Brasil, no mundo inteiro, o trote está se tornando um problema cada vez mais sério. Os Estados Unidos são um país onde a questão do trote é terrível. O número de mortes que tem lá se tornou um problema social sério. No ano 2000 houve 19 casos de morte por causa de trote registrados no país.

Antônio Almeida: Na Inglaterra apareceram imagens de alunos dando trotes, enfiando saco plástico na cabeça das pessoas. Isso na Inglaterra. Não é um caso específico de violência no Brasil, por ser trote, ele é violento em qualquer parte do mundo.

Oriowaldo Queda: O trote é muito conhecido no Exército também. O Glauco Matoso, que fez uma pesquisa histórica ampla sobre o trote, disse que existe uma correlação entre os trotistas na universidade e os torturadores. Segundo ele, a ditadura recrutou torturadores não só nas forças militares, mas também entre os universitários ligados ao trote.

C.O.: Neste início das aulas muito foi falado do trote, que machucou muitos jovens. Em que medida você considera que esta burocracia universitária, que em grande parte compartilha destes atos, fará algo para de fato inibir estas ações? Não pode ser um pretexto para o aumento da repressão e perseguição ao movimento político dos estudantes?

Antônio Almeida: Eu diria que é o contrário. Tem um procedimento clássico das universidades, que é abrir sindicância e apurar os fatos para punir e expulsar. Quase todas as sindicâncias resultam em não punição, mesmo o caso do Edson Tsung Chi Hsueh que havia uma moção do Conselho Universitário dizendo que os alunos envolvidos no trote deveriam ser punidos. Quando a universidade pune, o processo é rápido, em poucos dias os alunos estão suspensos ou expulsos, independente de sindicâncias. Eu diria que pune em menos de um mês. Eu participei de uma reunião que estavam discutindo essas medidas e a tentativa é juntar todas as ocorrências. Proíbem o trote, proíbem qualquer tipo de bebida, proíbem festas e qualquer manifestação política.
Então isso pode ocorrer sim, a burocracia universitária utilizar essas medidas para atingir outros objetivos além da questão do trote.

Antônio Almeida: De uma forma geral, onde o trote é forte e recorrente, quase que certamente tem o apoio da direção e dos professores da instituição. Onde esse apoio não existe, onde de fato a instituição condena o trote, eu diria que dificilmente uma cultura trotista vai se instalar.

C.O.: Como ocorre esse apoio?

Antônio Almeida: Apoio financeiro. No caso da ESALQ, por exemplo, há fundações que todos os anos acabam dando dinheiro para os trotistas para produzirem cartazes, camisetas e materiais impressos. A direção tenta evitar os escândalos, acobertando os fatos, impedindo a imprensa de ter acesso ao que acontece, ocultando da própria comunidade.

C.O.: Eu queria agradecer e perdir se vocês tiverem alguma consideração final, alguma observação para fazer.

Oriowaldo Queda: Eu acho que seria bom averiguar a questão dos trotes entre os trabalhadores. Ver em alguns sindicatos se a questão dos trotes faz parte da preocupação deles.
Pois se houver sindicatos que se manifestam contra o trote por causa das razões que comentamos aqui e no livro, a reitoria e diretoria não seriam como são.


19 de fevereiro de 2009

Sobre o projeto de cotas para meia-entrada


Meia-entrada ilimitada para todos os estudantes!!! Nenhum direito a menos!!!

A juventude vive num verdadeiro fogo cruzado aos seus direitos. Com a constante alta em preços e tarifas que vem assombrando a classe trabalhadora no mundo todo, os jovens sentem na pele esses ataques através das recentes ameaças de aumentos nas passagens de ônibus, com o problema da insegurança nas escolas e com o reajuste das mensalidades nas universidades particulares.
Não bastasse tudo isso, foi aprovado, no dia 09/12, por unanimidade, pela comissão de educação cultura e esporte do senado, o projeto de Lei do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), que impõe uma vergonhosa cota de 40% para venda de ingressos destinados à meia-entrada.
A idéia é limitar a entrada em cinemas, teatros e eventos culturais de estudantes. Pelo projeto, os estudantes do ensino básico e superior só terão direito a desconto em 40% dos ingressos disponíveis nas bilheterias. Este percentual na realidade é ainda menor, pois essa quantia é também reservada para os idosos.
O grande problema disso tudo não tem haver simplesmente com o fato de não haver como fiscalizar o cumprimento desta taxa proposta, como diz a UNE, mas sim de que existe uma movimentação clara por parte do congresso de corruptos e mensaleiros de retirar um direito histórico dos estudantes para favorecer os empresários da indústria do entretenimento.
Além do mais, esse projeto tem um caráter profundamente excludente, pois os estudantes filhos de trabalhadores e estudantes trabalhadores precisam da meia-entrada para ter acesso a eventos culturais.


Governo Lula intervém na autonomia do movimento estudantil via Casa da Moeda
Uma manobra durante a votação das cotas demonstra que o interesse do governo e dos senadores, além de retirar direitos da juventude, é o de interferir na autonomia do movimento estudantil. Um dos ajustes dos senadores ao projeto de lei é o de que a Casa da Moeda passe a emitir as carteiras estudantis. Um verdadeiro absurdo que passa por cima da lei 7.398 do grêmio livre e que “contempla” os interesses financeiros que existem por trás da defesa de maior fiscalização por parte da direção majoritária da União Nacional dos Estudantes (UNE).

Qual o interesse da direção Majoritária da UNE?
A direção majoritária da UNE vem defendendo nos meios de comunicação uma posição em favor de maior regulamentação da emissão de carteiras, pois, de acordo com sua presidente, Lucia Stumpf “apenas o controle sobre a emissão e distribuição de carteiras limitaria a venda de meia-entrada a cerca de 30% a 40% da bilheteria, sem a necessidade de cotas. Isso porque, atualmente, com a facilidade de falsificação, a maioria dos que pagam meiaentrada não são de fato estudantes”. (Folha Online 25/11/2008)
Na verdade, o verdadeiro interesse da UNE com a regulamentação das carteiras de estudantes são os milhões que podem ser gerados através do monopólio da entidade sobre a emissão das carteiras via casa da moeda.

Meia-entrada restrita quando desemprego entre jovens é três vezes maior do que entre adultos?!

Um estudo divulgado em maio deste ano pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) detalha uma realidade que os jovens já percebem, na prática: a falta de emprego. Segundo pesquisa do IPEA, o desemprego entre jovens de 15 a 24 anos é 3,5 vezes maior do que entre os trabalhadores considerados adultos, com mais de 24 anos. O índice de desemprego entre os jovens é de 19%, aponta a pesquisa, a maior dos anos pesquisados: 18% (2000), 11% (1995), 7% (1990) e 6% (1985).
De acordo com o estudo, o desemprego é maior entre os jovens porque a demissão desses trabalhadores tem um custo mais baixo para as empresas e porque, por terem menos experiência,podem ser considerados menos "essenciais".

13 de fevereiro de 2009

As fantasias ou atos sádicos podem envolver atividades que indicam o domínio do indivíduo sobre a vítima. É o sofrimento da vitima que causa a excitação sexual do sádico.

5 de fevereiro de 2009

A Moradia

Sobre a Moradia Estudantil Federal em Ouro Preto


A MORADIA

Qual de nós não abriria largamente a sua boca para criticar os rumos tomados pelas políticas parasitárias do nosso país? Qual de nós, estudantes, não se envergonharia por legitimar e se calar ante os crimes descarados praticados diariamente contra nossa terra e contra o nosso povo? E, no entanto, surge o paradoxo evidente: qual de nós ficaria verdadeiramente corado de vergonha por censurar toda essa visível devassidão, enquanto pratica os mesmos atos outrora criticados?

Nossa crítica ecoa para além de nós mesmos, numa tentativa fracassada de legitimar e disfarçar as delinqüências que nós cometemos. Podemos corretamente, num momento de epifania, encher nossos pulmões com a fumaça mais banal, e criticarmos com a voz mais exasperada todas as barbáries políticas já cometidas. Porém, jamais poderemos deslegitimar e escancarar as sutilezas cometidas por nós. Jamais poderemos criticar, de forma honesta e verdadeira, a utilização indevida do espaço público, tal como acontecem na maioria das Repúblicas Federais em Ouro Preto: jamais poderemos criticar essa estupidez carnavalesca, esse empreendimento tão mascarado, que engolimos a seco por causa da tal tradição encravada temporalmente, e que somente à fina flor da elite interessa.

Diante disso, qual a verdadeira legitimidade de criticarmos escancaradamente as violações ocorridas num país onde os pobres perdem cada vez mais os seus direitos, num país onde silenciosamente retiram-lhes a chance de participarem de uma estrutura social que lhes permitiria sair da miséria, tanto material quanto intelectual se, aqui mesmo em Ouro Preto, negligenciamos, usurpamos e aproveitamos indevidamente aquilo que deveria dar a assistência aos que verdadeiramente necessitam. Portanto, diante de tantas contradições, ou nós aceitamos que participamos da opressão e nos recolhemos ao silêncio, ou então enfrentamos o paradoxo, pois só estaremos cônscios de nós mesmos se estivermos realmente dentro do mundo.


OCUPE A MORADIA ESTUDANTIL FEDERAL DA UNIVERSIDADE PAGANDO O PREÇO QUE SUAS CONDIÇÕES PERMITIREM E SEM SUBMETER ÀS HUMILHAÇÕES DOS TROTES, POIS É SEU DIREITO!