5 de fevereiro de 2009

A Moradia

Sobre a Moradia Estudantil Federal em Ouro Preto


A MORADIA

Qual de nós não abriria largamente a sua boca para criticar os rumos tomados pelas políticas parasitárias do nosso país? Qual de nós, estudantes, não se envergonharia por legitimar e se calar ante os crimes descarados praticados diariamente contra nossa terra e contra o nosso povo? E, no entanto, surge o paradoxo evidente: qual de nós ficaria verdadeiramente corado de vergonha por censurar toda essa visível devassidão, enquanto pratica os mesmos atos outrora criticados?

Nossa crítica ecoa para além de nós mesmos, numa tentativa fracassada de legitimar e disfarçar as delinqüências que nós cometemos. Podemos corretamente, num momento de epifania, encher nossos pulmões com a fumaça mais banal, e criticarmos com a voz mais exasperada todas as barbáries políticas já cometidas. Porém, jamais poderemos deslegitimar e escancarar as sutilezas cometidas por nós. Jamais poderemos criticar, de forma honesta e verdadeira, a utilização indevida do espaço público, tal como acontecem na maioria das Repúblicas Federais em Ouro Preto: jamais poderemos criticar essa estupidez carnavalesca, esse empreendimento tão mascarado, que engolimos a seco por causa da tal tradição encravada temporalmente, e que somente à fina flor da elite interessa.

Diante disso, qual a verdadeira legitimidade de criticarmos escancaradamente as violações ocorridas num país onde os pobres perdem cada vez mais os seus direitos, num país onde silenciosamente retiram-lhes a chance de participarem de uma estrutura social que lhes permitiria sair da miséria, tanto material quanto intelectual se, aqui mesmo em Ouro Preto, negligenciamos, usurpamos e aproveitamos indevidamente aquilo que deveria dar a assistência aos que verdadeiramente necessitam. Portanto, diante de tantas contradições, ou nós aceitamos que participamos da opressão e nos recolhemos ao silêncio, ou então enfrentamos o paradoxo, pois só estaremos cônscios de nós mesmos se estivermos realmente dentro do mundo.


OCUPE A MORADIA ESTUDANTIL FEDERAL DA UNIVERSIDADE PAGANDO O PREÇO QUE SUAS CONDIÇÕES PERMITIREM E SEM SUBMETER ÀS HUMILHAÇÕES DOS TROTES, POIS É SEU DIREITO!

Um comentário:

deivid junio disse...

ficou provocativo e bonito o texto.
parabéns, pessoal!