20 de maio de 2008

MAIO de 68

40 anos deste marco para o Movimento Estudantil



Pesquise, Reflita!

5 comentários:

coletivo disse...

Scarlett Marton: Tentativas de apagar Maio de 68

- Descontextualizar os movimentos de 1968 é o primeiro passo para conferir a eles outro sentido e, assim, reescrever a história

NUM DE seus últimos comícios em abril de 2007, o então candidato à Presidência da República Nicolas Sarkozy exortou os franceses a liqüidar a herança de Maio de 68. A frase não se deveu apenas a mais um rompante do político nem sempre feliz em suas declarações; ela veio dar nome a um movimento que há algum tempo se mantém ativo.

Porque, quando se trata de 1968, se tornou lugar-comum falar em liberação sexual. Visto como um conflito de gerações, se ele deixou alguma herança, teria sido a prática de uma educação laxista, que pôs em risco os valores basilares da sociedade.

O fato é que não se pode dissociar os movimentos de 1968 do contexto histórico em que ocorreram. Se de forma aparentemente concertada eclodiram nos mais diferentes pontos do planeta, assumiram por certo colorações locais.

No Brasil, 1968 esteve marcado pela luta contra a ditadura militar; nos EUA, veio reforçar os protestos contra a Guerra do Vietnã; na França, seguiu-se às revoltas dos camponeses, que haviam incendiado várias regiões do país. Descontextualizar os movimentos de 1968 é o primeiro passo para conferir a eles outro sentido -e assim reescrever a história.

Em que pese a aparente contradição dos termos, estamos em meio a uma revolução conservadora dotada de uma radicalidade muito maior do que a revolução com que então se sonhou. É nesse contexto que se situam as apropriações ideológicas do maio francês; procurando "liqüidar a sua herança", elas visam sobretudo a desprovê-lo de seu conteúdo revolucionário.

Que se tome "Amantes Constantes", de Philippe Garrel. O filme começa com uma cena das barricadas em Paris, em que o protagonista lança um paralelepípedo e logo aparece vestido com trajes do século 18. Ao associar de modo sub-reptício Maio de 68 e a Revolução Francesa, induz o espectador a ver o acontecimento, na melhor das hipóteses, como mais um feito da burguesia. Tanto é que, passados os primeiros minutos, explora as relações amorosas dos personagens, na trilha da invenção burguesa da vida interior.

Também "Os Sonhadores", de Bertolucci, se inicia com uma cena de protesto em 1968, pretexto para que os três personagens centrais se encontrem. A partir daí, o filme narra as vivências que têm o irmão e a irmã, com o novo amigo, enclausurados num grande apartamento. Quando por fim uma pedra estilhaça o vidro da janela, eles saem do confinamento e se juntam a uma passeata. Nem por isso são levados a passar da esfera privada para a pública, pois a rua pode bem ser o prolongamento da casa.

Apropriações ideológicas igualmente se verificam em boa parte das publicações mais recentes. Caso típico é o livro de André Glucksmann e seu filho Raphael, recém-lançado na França e já traduzido no Brasil. Com Maio de 68 explicado a Nicolas Sarkozy, Glucksmann sai mais uma vez em defesa do establishment.

Se em 1968 fizera parte de um grupo maoísta, entre 1975 e 1977 se apresenta com Bernard-Henri Lévy sob a etiqueta de "novos filósofos".

Visto com bons olhos pelo governo de Giscard d"Estaing, procura assegurar um bom lugar na cena parisiense. Desde então, segue a sua carreira bem-sucedida de autor mediático.

A profusão de depoimentos sobre o maio francês nem sempre caminha a seu favor. Enfatizando seu caráter espetacular, acaba em geral por esvaziá-lo. Aqui se aplica bem um dos slogans que, inspirado nas idéias de Guy Debord, então se estampavam nos muros do teatro do Odéon em Paris: "Não nos demoremos no espetáculo da contestação, mas passemos à contestação do espetáculo". Comemorar o acontecimento pode bem contribuir para converter a memória coletiva em instrumento de domesticação.

Maio de 68 não se situa, por certo, nos parâmetros das revoluções do século 20, como a russa ou a cubana. Pois, à diferença delas, seus participantes não pretenderam tomar o poder, mas quiseram contestá-lo.

Os estudantes que em Paris então desceram às ruas se posicionaram contra as estruturas universitárias e a disciplina acadêmica, os mandarins da cultura e o dogmatismo reinante.

Bem mais: puseram em xeque a autoridade em geral, desde a figura do catedrático, passando pela do policial, até a de um dirigente político, como De Gaulle.

Uns vêem Maio de 68 como uma revolução política; outros como uma revolução cultural. Prefiro acompanhar Michel Serres, que o entende como a irrupção de uma radical transformação antropológica. Pois, então, inventou-se uma nova visão de mundo, uma nova concepção do homem e da sociedade. Se não vingou, nem por isso deixou de existir.



--------------------------------------------------------------------------------

SCARLETT MARTON , mestre em filosofia pela Universidade de Paris 1 (Panthéon-Sorbonne), doutora em filosofia pela USP, é professora titular de filosofia contemporânea da USP. É autora, entre outras obras, de "A Irrecusável Busca de Sentido - Autobiografia Intelectual".

coletivo disse...

. . . Enquanto isso no prédio de Turismo: uma pessoa escreveu "Tem assento suas antas" para a palavra Universite, usada em um dos cartazes espalhados na UFOP.

Esperamos que essa pessoa procure o coletivo para que a gente divulgue as aulas de francês que ele dá para a comunidade. Claro que ele, como um universitário pensante, não guarda todo esse conhecimento só para ele né!?
Estamos aguardando.

coletivo disse...

E reparem o detalhe "Assento"

Leo F Reis disse...

Qual foi o texto que vocês pregaram pela universidade, eu não vi.

coletivo disse...

Compareçam: dia 13/06 Sexta-feira no IFAC