20 de maio de 2008

Carta de ouropretanos enviada à UFOP*

Ao Excelentíssimo Senhor Reitor da Universidade Federal de Ouro Preto
Professor Dr. João Luiz Martins
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Diante de alguns pronunciamentos e rumores por parte dos alunos-moradores das repúblicas federais da UFOP, viemos expressar nossas preocupações e insatisfações diante da situação. Esse grupo de alunos, apoiados pelos principais gestores e docentes da UFOP, se interessara em buscar compor o espaço político e democrático que administra a cidade de Ouro Preto com intuito de eleger nas próximas eleições um vereador que represente essa classe “republicana” – mas já alegando em algumas propagandas o desejo de uma “Ouro Preto melhor”. A transferência do título eleitoral como mecanismo de apoio e de participação direta nas eleições municipais não é um ato ilegítimo e inconstitucional, mas a forma com que esse artifício está sendo conduzido pelos “republicanos” beira à ridicularização e à banalização do exercício da cidadania em nossa cidade lembrando os anos sombrios do coronelismo, do voto de cabresto e, ao mesmo tempo, leva a comunidade ouropretana a imaginar o espaço político como um teatro aberto à incorporação de mais um grupo de figurinos.Primeiramente, gostaríamos de ressaltar que a comunidade ouropretana nos seus mais de 300 anos sempre procurou combater grupos de interesses idênticos aos atuais “republicanos” desde o início de sua fundação, cujo princípio de tais grupos eram extrair e explorar as riquezas da região formando em seguida novos grupos compostos pelos “homens bons” vinculados à elite comercial e política da região. Esses foram os pilares de sustentação da nossa cidade, sempre apoiados na exploração de uma mão-de-obra escrava, servil e, até o momento, assalariada. Haja visto, as próprias pesquisas de opinião realizadas pelo núcleo de pesquisa da UFOP (Neaspoc) confirmam as mazelas que ainda assolam a cidade.
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Da escravidão à atualidade, nós, ouropretanos, sempre deparamos com as muralhas que nos renderam ao papel de simples espectadores onde as rédeas tomadas e conduzidas pela elite local podem ser nas próximas eleições compartilhadas com os figurinos “republicanos” completamente desinteressados em uma Ouro Preto melhor, mais justa e igualitária. A herança maldita permanece e os alunos moradores das repúblicas federais de Ouro Preto vem nos extorquindo desde a fundação de suas moradias estudantis. Auferir lucros locando esses espaços é um comportamento, no nosso entender, leviano e sempre praticado graças ao aval e consentimento da própria UFOP. Entretanto, o nosso descontentamento passou a se manifestar de forma mais aguda a partir do momento que os atuais “republicanos” procuraram cooptar e conquistar alguns ouropretanos adotando um comportamento típico dos potentados locais como a utilização de um assistencialismo barato. Doações de mesas para escolas e latinhas para órgãos sociais podem até ser boas ações, mas não resolvem os graves impasses que sempre atormentaram a cidade, conhecidos como a desigualdade e a injustiça.
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Para ingressar-se na política de Ouro Preto deve-se, primeiramente, se livrar do ranço das segundas intenções, algo tão difícil aos “republicanos”, pois, ao tentar realizar um rock do título, comprovou-se realmente a sua falta de compromisso, de seriedade e de responsabilidade para com a comunidade ouropretana onde o espaço público compreendido por eles não passa simplesmente de um cabide de emprego onde as regalias correm soltas. Deixar se conduzir por um comportamento medíocre e infantilizado é deixar se conduzir pela barbárie. Esperamos que os atuais gestores da Universidade Federal de Ouro Preto tomem consciência dos fatos ocorridos e se manifestem como representantes de uma instituição de ensino superior pública visando compromisso sério com a população e com a comunidade local posicionando contra essa tradição interesseira, injusta e carniceira.
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Gilson César Xavier Moutinho (ouropretano morador do Bairro Bauxita)
Wellington Júnio Guimarães da Costa (ouropretano morador do Bairro Antônio Dias)

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*A carta foi postada originalmente com comentário no blog do Coletivo Amar e mudar as coisas, pelo morador ouropretano identificado como Gilson, em 09 de maio de 2008, no link:
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