26 de março de 2008

Carta Aberta à Coordenadoria de Assuntos Comunitários da Ufop sobre processo de preenchimento de 07 vagas ociosas em República Estudantil Federal

Ouro Preto, 26 de Março de 2008.


A UFOP, diante da informação de que a República Federal Jardim Zoológico chegou ao ponto de abrigar apenas um morador no começo deste semestre, por motivos não divulgados, e dispondo portanto de 07 vagas ociosas, lançou por meio da Coordenadoria de Assuntos Comunitários (CAC), no último mês de janeiro, o EDITAL CAC/PROAD/UFOP Nº 001/2008 com o objetivo de fazer valer a função destas 07 vagas: o preenchimento por estudantes da UFOP que não dispõem de outras condições para estabelecer-se em Ouro Preto, provindos, em boa parte, de outras cidades, condizendo-se assim com a política de incentivo a permanência dos discentes na UFOP, conforme previsto no próprio Estatuto das Residências Estudantis de Ouro Preto (RESOLUÇÃO CUNI Nº 779). O mesmo Estatuto também dá poderes à CAC para intervenções nestes casos de vagas ociosas.

Pelo critério avaliativo de seleção que demandava na seguinte ordem: coeficiente de rendimento escolar do inscrito, situação sócio-econômica precária e idade, a CAC divulgou em 07 de março de 2008 a lista dos candidatos que melhor atendiam suas exigências. O Edital, apesar de indicar o critério sócio-econômico como indispensável em sua seleção, não informou em suas cláusulas o valor da "caixinha", a taxa de contribuição mensal a ser paga por cada republicano da casa que dispunha das vagas ociosas. Ignorando que os felizardos selecionados não pudessem ter condições de pagar a "caixinha" da república a qual seriam encaminhados, uma vez que todos sabemos que boa parcela das repúblicas federais de Ouro Preto comportam gastos inacessíveis a pessoas de baixa renda, como assinaturas de TV a cabo, Internet banda larga, empregada e muita cerveja liberada.

Mesmo se tratando de moradias públicas, onde não se paga aluguel, e estando na lista de bens e propriedades da UFOP, uma universidade pública, estas casas, como é bem percebido pelos próprios ouropretanos durante o carnaval, atendem muitas das vezes a interesses privados e já deu demonstrações de relacionamento com a cidade por meio da "Responsabilidade Social", estratégia de marketing tão comum de empresas privadas que pretendem, algumas delas, maquiar também seus danos à cidade, ao meio ambiente e às populações mais pobres, por meio de ações meramente assistencialistas e que ajudam a perpetuar relações de "apadrinhamento" que, por fim, aprofundam a pobreza.

Os sete selecionados pela CAC foram convocados para uma conversa individual com a psicóloga da CAC, Marina Knaip Delôgo, na última segunda-feira, dia 24. Nesta entrevista foram colocadas as seguintes observações: a psicóloga soube informar que a "caixinha" da república era, em média, R$ 180,00, podendo ser alterado o valor mediante negociações com o decano Leandro. Esta "caixinha", segundo foi informado à ela, compreende diversos gastos como empregada e internet Velox.

Aos ingressantes indicados pela CAC não seriam aplicados trotes do tipo uso de placa e corte de cabelo. Informação contradizente com o que um dos já moradores apresentou ao primeiro selecionado encaminhado para a nova casa. Ao C.M.S. foi proposto usar a tradicional "placa de batalha de vaga" e marcar um "Z" em sua cabeça por durante seis meses.

Após a abertura o edital pela CAC, e a partir do carnaval, a república passou a contar com cinco moradores, e não apenas um como antes. Destes, alguns são calouros e estão recebendo trotes e alguns outros são moradores de outras repúblicas federais que foram morar lá. Mesmo tendo diminuído as vagas ociosas na República Jardim Zoológico, a psicóloga Marina garantiu que a CAC pretende fazer valer o edital indicando o mesmo número de estudantes selecionados para morar na casa. Ela afirmou ainda que os ingressantes deverão participar do convívio social estabelecido pelas repúblicas federais de Ouro Preto e que ao final de seis meses (um período) caberá ao Decano Leandro e demais moradores, exceto outros calouros, decidir finalmente se os ingressantes pela CAC permanecerão ou não na República. Isso está assegurado na Resolução CUNI Nº 779 (Estatuto das Repúblicas Federais) nos tópicos relacionados à convivência e adaptação.

Diante das circunstâncias, eu, Deivid Junio, estudante do 2º período de Filosofia, tendo sido selecionado em 7º lugar, optei por recusar a moradia na República Jardim Zoológico, uma vez que não tenho condições financeiras de pagar a "caixinha" da república, sendo bolsista integral nos Restaurantes Universitários. Recuso-me a morar numa casa onde outros calouros, ingressados por outro processo, são submetidos ao trote.

Recuso-me a ingressar numa casa por indicação da CAC sendo que esta Coordenadoria não se compromete em assegurar minha permanência, cabendo ao Decano, autoridade que tenho o direito de ignorar, a decisão de que se devo ou não permanecer após um período de "batalha".

Recuso-me a aceitar este critério estabelecido pela CAC que, ao invés de atender uma parcela de estudantes necessitados de moradia, dá atenção a uma suposta tradição antes de tomar suas próprias decisões.

Recuso-me ao ingresso em moradia pública estudantil da Ufop nesses moldes. Percebo o direito à moradia pública nesta Universidade claramente limitado e constituído de modo a atender o interesse de uma minoria que zela por perpetuar tradições injustas e que favorecem, conforme a mesma psicóloga admitiu, "interesses privados".

Recuso-me a ingressar na República Federal Jardim Zoológico porque rejeito toda esta tradição que oprime as decisões da própria Coordenadoria de Assuntos Comunitários da Ufop, que deveria agir em favor dos estudantes de baixa renda.

Oxalá, encontremos o caminho!
Deivid Junio
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Graduando em Filosofia – 2º período
Universidade Federal de Ouro Preto

3 comentários:

Gilson disse...

Carta de ouropretamos enviadas à UFOP.

Ao Excelentíssimo Senhor Reitor da Universidade Federal de Ouro Preto
Professor Dr. João Luiz Martins

Diante de alguns pronunciamentos e rumores por parte dos alunos-moradores das repúblicas federais da UFOP, viemos expressar nossas preocupações e insatisfações diante da situação. Esse grupo de alunos, apoiados pelos principais gestores e docentes da UFOP, se interessara em buscar compor o espaço político e democrático que administra a cidade de Ouro Preto com intuito de eleger nas próximas eleições um vereador que represente essa classe “republicana” – mas já alegando em algumas propagandas o desejo de uma “Ouro Preto melhor”. A transferência do título eleitoral como mecanismo de apoio e de participação direta nas eleições municipais não é um ato ilegítimo e inconstitucional, mas a forma com que esse artifício está sendo conduzido pelos “republicanos” beira à ridicularização e à banalização do exercício da cidadania em nossa cidade lembrando os anos sombrios do coronelismo, do voto de cabresto e, ao mesmo tempo, leva a comunidade ouropretana a imaginar o espaço político como um teatro aberto à incorporação de mais um grupo de figurinos.
Primeiramente, gostaríamos de ressaltar que a comunidade ouropretana nos seus mais de 300 anos sempre procurou combater grupos de interesses idênticos aos atuais “republicanos” desde o início de sua fundação, cujo princípio de tais grupos eram extrair e explorar as riquezas da região formando em seguida novos grupos compostos pelos “homens bons” vinculados à elite comercial e política da região. Esses foram os pilares de sustentação da nossa cidade, sempre apoiados na exploração de uma mão-de-obra escrava, servil e, até o momento, assalariada. Haja visto, as próprias pesquisas de opinião realizadas pelo núcleo de pesquisa da UFOP (Neaspoc) confirmam as mazelas que ainda assolam a cidade.
Da escravidão à atualidade, nós, ouropretanos, sempre deparamos com as muralhas que nos renderam ao papel de simples espectadores onde as rédeas tomadas e conduzidas pela elite local podem ser nas próximas eleições compartilhadas com os figurinos “republicanos” completamente desinteressados em uma Ouro Preto melhor, mais justa e igualitária. A herança maldita permanece e os alunos moradores das repúblicas federais de Ouro Preto vem nos extorquindo desde a fundação de suas moradias estudantis. Auferir lucros locando esses espaços é um comportamento, no nosso entender, leviano e sempre praticado graças ao aval e consentimento da própria UFOP. Entretanto, o nosso descontentamento passou a se manifestar de forma mais aguda a partir do momento que os atuais “republicanos” procuraram cooptar e conquistar alguns ouropretanos adotando um comportamento típico dos potentados locais como a utilização de um assistencialismo barato. Doações de mesas para escolas e latinhas para órgãos sociais podem até ser boas ações, mas não resolvem os graves impasses que sempre atormentaram a cidade, conhecidos como a desigualdade e a injustiça.
Para ingressar-se na política de Ouro Preto deve-se, primeiramente, se livrar do ranço das segundas intenções, algo tão difícil aos “republicanos”, pois, ao tentar realizar um rock do título, comprovou-se realmente a sua falta de compromisso, de seriedade e de responsabilidade para com a comunidade ouropretana onde o espaço público compreendido por eles não passa simplesmente de um cabide de emprego onde as regalias correm soltas. Deixar se conduzir por um comportamento medíocre e infantilizado é deixar se conduzir pela barbárie. Esperamos que os atuais gestores da Universidade Federal de Ouro Preto tomem consciência dos fatos ocorridos e se manifestem como representantes de uma instituição de ensino superior pública visando compromisso sério com a população e com a comunidade local posicionando contra essa tradição interesseira, injusta e carniceira.



Gilson César Xavier Moutinho (ouropretano morador do Bairro Bauxita)
Wellington Júnio Guimarães da Costa (ouropretano morador do Bairro Antônio Dias)

observador.critica.ufop disse...

Caros simpatizantes e fiéis interlocutores do blog Amar e Mudar as Coisas,
Escrevo esta missiva para relatar-lhes um fato ocorrido na Calourada Unificada "organizada" pelo DCE.
A calourada corria muito bem... o som estava legal, as bandas tocavam, a bebida estava vendendo muito bem, o atendimento no improvisado bar era rápido, como de se esperar, pois cada membro republicano do DCE trouxera seu personal-bixo para trabalhar "voluntariamente". Os membros do próprio DCE curtiam o seu "rock" e observavam o "seu" belíssimo trabalho, que os enchia de soberba... Tudo corria como o pomposo DCE engendrou!
Eu, um fiel observador da hipocrisia ufopiana, estava a exercer esta minha função, quando um fato me deixou perplexo:
Vi um sujeito agredir fisicamente uma jovem que trabalhava no bar. Logo, vendo o desenrolar da confusão, procurei saber quem eram aquelas pessoas envolvidas no tumulto. A jovem era caloura, ou melhor personal-bixo de um membro do nosso DCE. E o rapaz era um republicano, desses que não são um dos "federalistas", mas os louvam chegando até a imitá-los. O motivo da arruaça, disseram-me que simplesmente não existia, o meliante estava embriagado e deu uma bofetada na face da bixete, depois de tentar agredí-la com a tampa do freezer. A caloura gritava descontroladamente que exigia polícia (risos...). Até que o nosso perspicaz DCE (bêbado, mas sagaz!), levou a caloura para um lugar reservado e lhe disse algo que a fez calar, mas não acalmar...(risos novamente!)
Enfim, a festa, ou melhor, "rock" acabou e até onde sei, nenhuma providência foi tomada. Em minha opinião, para não deslustrar a rutilante calourada (onde os calouros estão no balcão atendendo os "veteranos") promovida pelo (pelo???) DCE.
Agora só nos resta as indagações, meus caros interlocutores...
Até onde vai a frialdade, o calculismo e o indiferentismo dessas pessoas, ou melhor, desses universitários que nos representam? Qual é o sentido do vocábulo respeito para esses nossos "amigos"? Será que eles só conhecem a apatia, quando os interessam? E a solidariedade?
Consultem o vernáculo, meus caros, pois os valores estão sendo mesmo perdidos e esses são os nossos representantes.
Transfiram rapidamente o Título eleitoral, pois precisamos continuar a nossa árdua tarefa de alienar (ou seria melhor, adestrar?) os nossos calouros, pois aqui nesta universidade não admite-se diversidade, aqui, onde é preciso disciplinar os calouros! Só se é aceito pela hipócrita atual sociedade republicana, se você é um bixo que batalha vaga e anda com a cabeça no vaso sanitário, como vemos por aí...

Graduando de Direito

Rodrigo Medeiros (Adv.) disse...

Caro observador.critica.ufop
Estava presente no momento de que tudo isto aconteceu. Realmente o rapaz estava bêbado, e sem motivo algum bateu na garota que estava ajudando na festa de encerramento da Calourada.
Nossa atitude foi colocá-lo imediatamente para fora da festa, sem direito a discussão. Prestamos toda a ajuda à garota e nos propomos à ajudá-la em que ela precisasse. Desde depoimentos em delegacia ou outras providências mais enérgicas.
Nossa intenção era que ela fizesse ao menos um boletim de ocorrência, para que ficasse registrado a agressão, porém não foi a escolha dela.

Sobre a participação dos membros durante a festa, nós nos dividimos. Alguns estavam nos bares ajudando à servir as bebidas, outros cuidavam dos caixas e dinheiro, outros responsáveis pela segurança e outros pelas bandas e Dj`s. Somos 18 membros. Cada um fazia sua parte, e diferentemente de como você disse "membros do próprio DCE curtiam o seu "rock" e observavam o "seu" belíssimo trabalho".

Acho que você nunca realizou um evento desse porte, e não sabe o trabalho que dá... não ficou noites sem dormir, e realizou várias reuniões para que tudo dê certo.

Infelizmente imprevisos acontecem, como por exemplo a briga. Mas no geral a festa e toda a Calourada foi boa. Espero que você goste da próxima.

Abraços, Bazé