12 de novembro de 2007

Manifesto – assistência estudantil

São muitas as dificuldades de criar um movimento estudantil interessado em discutir a relação Sociedade x Universidade e consequentemente a questão da assistência estudantil. Primeiramente porque é uma árdua luta contra nossas próprias convenções e convicções, afinal lutamos contra todo o sistema ideológico vigente, perverso e tirano. Torna-se mais difícil quando grande parte dos universitários não tem dimensão do estado de penúria e privações que a maioria da humanidade enfrenta. Bem alimentado, entretido e manipulado muitas vezes perde sua capacidade de crítica e contestação.
A universidade funciona como uma ilha, isolada da sociedade, daí a dificuldade do estudante em se identificar com a luta do seu povo. Descompromissada com a sociedade que a sustenta, em grande parte visa uma produção em série de mão-de-obra qualificada. Autômatos para o mercado, ao invés de formar pensadores e pesquisadores à serviço do povo. Grande parte das pesquisas aqui geradas não são voltadas ao bem estar comum, mas para o lucro de poucos. Esse caráter mercadológico aparece claramente refletido no investimento extremamente desigual entre os cursos. A universidade, dessa maneira, não nos parece coerente.
No ensino público básico, a falta de investimentos em estrutura, professores e diretrizes pedagógicas inadequadas à realidade do povo brasileiro, faz com que poucos, fora a elite muito bem diplomada em uma boa escola particular, consigam chegar a uma instituição pública de ensino superior. Estes raros que chegam na universidade, após vencer a penosa e excludente seleção do vestibular, se deparam com o humilhante descaso com a assistência estudantil: uma constante em quase todas as faculdades públicas brasileiras.
Este é o contexto de nossa luta por moradia em Ouro Preto. Ao contrário do que muitos falam, não temos ódio dos moradores de repúblicas nem invejamos o estilo de vida dos republicanos. Lutamos pelo estudante de baixa renda, que resistiu a maré de fatalidades que se impôs durante toda a sua breve vida, e chega na UFOP desamparado financeira e psicologicamente. Muitos calouros abandonam o curso logo no início, por perceber as adversidades que enfrentará até, quem sabe um dia, depois de um bom tempo, conseguir uma vaga no alojamento. Distantes de um acesso democrático e justo estão as repúblicas federais e suas vagas ociosas. Com trotes hiper-abusivos, falta de critério objetivo de seleção e mensalidades, em muitos casos, inacessíveis, devido a auto-gestão, não podemos considerar essas casas parte da já precária assistência estudantil. Cogitamos a idéia da construção de novos alojamentos, mas não podemos abandonar a reivindicação da democratização, qual seja, a de que a universidade mantenha essas casas e a seleção para essas vagas sejam feitas mediante um critério sócio-econômico. O acesso à moradia (casas e não sempre alojamentos de quartos) pelo critério sócio-econômico é uma realidade em muitas universidades federais, e não há, além de toda a vaidade, problemas que impeçam o seu bom funcionamento e convivência. Moradia universitária pública é fundamental para a permanência desses estudantes e, portanto, não podemos permitir que sejam utilizadas como máquinas de dinheiro em nome dos interesses mais escusos.
Neste sentido, reivindicamos também agilidade no processo de cadastramento de bolsas-alimentação, a construção de alojamentos provisórios, e bolsas-permanência para todos os cursos, o que poderia resolver o problema da permanência imediata do calouro. Pedimos que o RU ofereça café da manhã e jantar aos sábados e domingos. Outro ponto fundamental é a implantação de transporte gratuito oferecido pela UFOP ligando os campus mariana, centro e morro do cruzeiro.
O desafio é grande, e ainda não estamos certos dos meios de luta para concretizarmos nossas idéias. Mas nos entristece ver que muitos dos que sofrem por problemas de assistência estudantil não participam dessa importante luta, pois estão submetidos ao eterno silencio do discurso do imutável.
O problema da elitização da universidade e da assistência estudantil só será realmente resolvido quando os estudantes se identificarem com o destino de seu povo, e enfrentar com ele a luta por educação, saúde, cultura, terra e liberdade. Caso contrário, seremos sempre aliados de seus opressores.

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