6 de novembro de 2007

Moradia

A Moradia

Qual de nós não abriria largamente a sua boca para criticar os rumos tomados pelas políticas parasitárias do nosso país? Qual de nós, estudantes, não se envergonharia por legitimar e se calar diante os crimes descarados praticados diariamente contra nossa terra e contra o nosso povo? E, no entanto, surge o paradoxo evidente: Qual de nós ficaria verdadeiramente corado de vergonha por censurar toda essa visível devassidão, enquanto pratica os mesmos atos outrora criticados?

Nossa crítica ecoa para além de nós mesmos, numa tentativa fracassada de legitimar e disfarçar as delinqüências que nós cometemos. Podemos corretamente, num momento de epifanismo, encher nossos pulmões com a fumaça mais banal, e criticarmos com a voz mais exasperada todas as barbáries políticas já cometidas. Porém, jamais poderemos deslegitimar e escancarar as sutilezas cometidas por nós. Jamais poderemos criticar, de forma honesta e verdadeira, a utilização indevida do espaço público, tal como acontecem na maioria das Repúblicas Federais em Ouro Preto: jamais poderemos criticar essa estupidez carnavalesca, esse empreendimento tão mascarado, do qual engolimos a seco por causa da tal tradição, encravada temporalmente, e que somente à fina flor da elite interessa.

Diante disso, qual a verdadeira legitimidade de criticarmos escancaradamente as violações ocorridas num país onde os pobres perdem cada vez mais os seus direitos, num país onde silenciosamente retiram-lhes a chance de participarem de uma estrutura social que lhes permitiria sair da miséria, tanto a material quanto a intelectual se, aqui mesmo em Ouro Preto, negligenciamos, usurpamos e aproveitamos indevidamente aquilo que deveria dar a assistência aos que verdadeiramente necessitam. Portanto, diante tantas contradições, ou nós aceitamos que participamos da opressão e nos recolhemos ao silêncio, ou então enfrentamos o paradoxo, pois só estaremos cônscios de nós mesmos se estivermos verdadeiramente dentro do mundo.

Texto: Tiago

3 comentários:

coletivo disse...

Mais sobre o REUNI:

http://www.andes.org.br/dossie_reuni.htm

coletivo disse...

Eco nas montanhas

de ter o desejo nas mãos
lançar mãos no topo do nada
livros e pensamentos livres
amar e as coisas mudar

a mudar feito vento no arenito
tempo água contra o granito
ver-se forte quando mosquito
a mudar a mudar a voar
por melhor ar
neste lugar
aqui d’outro jeito
há que lutar por espaço
pra cá convergiram-se os passos
atrás do que lhes é de direito:
educação
liberdade
educação
liberdade
ensino
pesquisa
extensão
liberdade
em ouro preto, mariana
monlevade
moradia
há que ser pública pública
repito: pública
e liberdade
li verdade
arde arde
arde arde

(Deivid Junio)

coletivo disse...

O amor, as mudanças (a Belchior)

o poetautor cearense
de música e letra
imprimiu no vinil:
‘amar e mudar as coisas’
palavra e vontade a fundir-se
na boca de atuais estudantes
em terra gerais como antes
por braços igual-mente atuantes
a arrrancar outros ouros do chão:
alojamentos, mais recursos,
apoios
e participação de todos em
importantes decisões
pão!...bandeijão!- tocam os
sinos de Minas
fazer o valor de uma
universidade de verdade
mais números, porém mais
qualidade
sem sucateamento do ensino
REUNI e outros projetos fadados
putas serviçais do mercado
não querem pensantes os
estudantes
pra só dizerem palavrinhas
fazerem continhas e outras
abobrinhas
e não dizerem o palavrão:
DEMOCRATIZAÇÃO

(Deivid Junio)