5 de setembro de 2008

Epílogo da ocupação

Para que a Universidade se consolide como uma instituição democrática é necessário que congregue no seu seio todos os seguimentos que constitui a sociedade, independente de cor, etnia, sexualidade ou classe social, e mais do que isso é necessário que garanta a permanência e igualdade de oportunidades desses grupos a fim de possibilitar a todos o acesso a cultura e ao conhecimento.

Sabemos que a assistência estudantil, bem como o acesso de todos à universidade, é uma das principais bandeiras defendidas pela história do movimento estudantil. Somente quando estiver assegurado o acesso à cultura e ao conhecimento para todos aqueles que não possuem condições materiais, é que a universidade consolidará a democracia entre os seus membros. A moradia estudantil, assim como a alimentação, a bolsa permanência, a assistência médica, o acesso ao livro, em suma, a assistência estudantil em geral, bem como a educação gratuita e de qualidade, está assegurada desde 1988 pela Constituição Federal do Brasil. Portanto, é dever do Estado, representado pelas reitorias, responsabilizar-se pela permanência dos estudantes carentes desta instituição federal de ensino superior.

As universidades públicas brasileiras têm passado por constantes expansões nas épocas recentes, porém a pretensa democracia que tem se desvelado no seu acesso não tem se estendido no que diz respeito a permanência dos seguimentos antes excluídos. Exemplos dessa situação são encontrados no projeto do REUNI e na política de ações afirmativas, que pretendem dar forma a democracia latente que pulsa nas veias da sociedade, porém têm se demonstrado insuficiente para atender as expectativas mais básicas daqueles que vislumbram as mesmas possibilidades das elites que desde sempre percorrem os corredores da academia.

O que é apresentado ao cotidiano da UFOP tem copiado insistentemente essa realidade segregante. A Universidade recebeu nesse último vestibular mais de 1000 alunos, sendo que no mínimo 30% desses são oriundos do ensino público, que se constitui a única alternativa da maioria dessas pessoas que ainda esperam do Estado o que lhe foi negado durante toda a história da sua existência.

Essa situação gerou a ocupação da PRACE na última terça-feira, quando mais de 20 alunos, entre os quais se apresentavam 5 alunos negligenciados pela debilitada assistência estudantil da UFOP, aos quais se somaram mais 8 na mesma situação, e inúmeros outros que exigiam o direito a assistência estudantil como condição para permanência desses 13 alunos.

Embora o resultado da ação direta realizada pelos estudantes tenha se demonstrado satisfatória (13 bolsas permanência e a promessa do atendimento as necessidades dos demais alunos da lista do alojamento estudantil), ainda se demonstra muito pequena frente a irresponsabilidades dessa e das outras administrações com relação a moradia estudantil socio-ecônomica, que hoje atende aproximadamente 1% dos alunos da instituição.

Diante das conquistas dessa ação direta fica claro que o movimento estudantil, organizado e unido, como é demonstrado em toda a sua história, apresenta melhores resultados do que a esperança depositada pela demagogia das atuais lideranças da maioria dos seguimentos institucionais da sociedade brasileira. Mais do que ocupar um espaço físico, é condição necessária desocupar as consciências de toda a dissimulação estabelecida, tornando-as conscientes das contradições ocultadas em nossa sociedade.


Todas as ocupações são impossíveis até se tornarem inevitáveis.


Assinam:

MOPRACE e Coletivo Amar e Mudar as Coisas.

Um comentário:

Maykon disse...

Compas,
Foi com muita satisfação que recebi a notícia de que vcs haviam ocupado a reitoria da UFOP. Como ex dicente e militante do ME daí, muito me alegrei de ver que a luta continua.
"Ousar lutar, ousar vencer"