16 de julho de 2008

Por que não se calam?

Queria que se calassem as vozes escritas que incomodam meus olhos. Queria que se calassem.

A poesia, a hipocrisia, a azia, a poeira, a ausência de burguesia destas pronúncias que diz provocações e ri do meu jeito certo. Queria que se calassem os que falam mal das tradições. O que seria dos indígenas, dos negros, dos ateus, dos militares, dos bruxos, dos santos, das humanidades sem as tradições que perduram duras e brilhantes pra reinar o bem?

Queria que calassem suas palavras de poesia e descontentamento. No momento nada disso vale a pena pra ninguém e vocês não se convencem disso.

Tudo o que incomoda meu pensamento e me contradiz deve ser calado. Não quero tocar em assuntos e verdades definitivas pra mim. Não quero que ameacem minha paz.

Prefiro que se calem e me deixem gozar da alegria dos reis em minhas fantasias. Eu parafraseio o rei de Espanha contra o fingimento das palavras. As palavras de vocês fazem doer as minhas crenças, seus desbocados!

Queria que se calassem, que desescrevessem, que despoesiassem, que se contentassem com minhas devotas tradições tão decanas...

Queria que se calassem os que, nas discussões, quando se vêem contrariados, as encerram. Pois, dentro de minha vontade de diálogo e luz de velas, não me recuso às discussões.

Queria que se calassem mas não desligassem meus microfones e megafones. Acusam-me de ofendê-los, mas na verdade espalharam com suas mentiras que nas repúblicas pessoas comem manteigas por meio de orifícios inapropriados.

Queria que se calassem, pois nos acusam de promovermos humilhação e sujeição nas hierarquias. São covardes por isso e não reconhecem nossa luta contra a indolência.

Inventam argumentos que nunca provam. Queria que se calassem uma vez que não têm como provar. Só agradam meus ouvidos e olhos e ânus as coisas prováveis.

Queria que se calassem com sua conduta mascarada de intelectualidade. Vocês espalham boatos e armam as mãos dos covardes.

Calouros, não se entreguem às paixões desses coitados que gritam chaves como "democratizar" e "liberdade"; palavras assim sempre foram usadas por grandes calhordas que mereciam ser queimados.

Queria que se calassem. Queria que se calassem os generalistas por que eles são generalistas e não são generais. E loucos por espalhar seus desejos nos desejos de todos. Queria que se calassem os utópicos com sua mania de possível impossibilidade.

Eles, não velhos, nem safados, como eu. Eu que só queria que se calassem. E não comessem mais nada de mim.

Por mim mesmo, deivid junio.

Um comentário:

Profº Rodolfo disse...

Deivid,
Simplismente magnífico seu poema. Essa é a grande diferença de fazer parte desse Coletivo. Os republicanos se unem para fazer perdurar tradições injustas, vazios de idéias e pensamentos, corroboram para o aprofundamento das desigualdades do nosso país. Fazer parte desse Coletivo significa isso que tentamos fazer todos os momentos: a crítica e a auto-crítica sempre acompanhada de boas idéias e discussões democráticas.
Nossa tarefa enquanto universitários é propor novos rumos para nossa sociedade que é extremamente desigual e não agravar o estado de coisas no qual nos encontramos...

Parabéns pelo talento poético!